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Mostrando postagens de 2021

A gorda, de Isabela Figueiredo

O livro "A gorda", da escritora portuguesa Isabela Figueiredo, é ficção e pura realidade, como nos adverte a autora. Fala da vida de Maria Luísa, uma menina/mulher gorda. E a partir desse olhar, vamos conhecendo seus sonhos, dilemas, sua relação com seu pai e com sua mãe, com os colegas de escola, com o namorado. Logo no início ela nos surpreende com uma epígrafe sonora, uma seleção de músicas que embalaram a sua vida. Ao longo dos capítulos, ficamos a imaginar a trilha daquele momento: "I put a Spell on You", com Nina Simone; "Dancing Queen" com Abba ou "Turning Time Around", de Lou Reed? Aos poucos, ela vai costurando a história, passando pelas partes da casa, uma personagem viva, nos revelando a Luísa estrangeira - seus pais vieram de Moçambique para Portugal quando ela era pré-adolescente -; a estudante de ótimo desempenho nos estudos e tão pouco hábil com o próprio corpo; a adulta, já profissional, de poucos amigos; a morte do pai, o envelhe

Torto Arado: a história dos moradores de Água Negra

  Por que ler Torto Arado ? Porque só se fala nisso e todos estão lendo (rs); por se tratar de um romance premiado aqui no Brasil e também em Portugal, vencedor dos prêmios Leya, Jabuti e Oceanos; para prestigiar o autor Itamar Vieira Junior, baiano, de Salvador; para conhecer a realidade dos trabalhadores rurais que ainda vivem em situação análoga à escravidão; porque o romance é uma delícia! É dividido em 3 partes: são 3 narradoras, 3 vozes femininas, 3 perspectivas. Os capítulos são curtos, o que dá ritmo à leitura, dá vontade de ficar lendo sem parar. A cada hora, sua agonia. Um outro motivo, confesso que esse foi o que mais me tocou, é viver a vida dos personagens - da infância à velhice -, a forma como cada um lida com suas questões, suas forças, seus medos, suas coragens, suas revoltas. Acompanhar um povo ainda conectado à Natureza, que sente que não apenas faz parte dela, mas É a própria natureza - a terra, o vento, o sol, as águas. Um tempo e espaço do Jarê , na Chapada Diama

Sobre os ossos dos mortos, da prêmio Nobel Olga Tokarczuk

    Essa é uma história aparentemente comum envolvendo pessoas simples de um vilarejo na Polônia. Até que assassinatos começam a acontecer e a senhora Dusheiko, Dísio, Esquisito, Boas Novas e outras personagens se envolvem nas investigações. Como pano de fundo, a autora reflete sobre a relação do homem com a Natureza, especialmente os animais, e também as inter-relações, o sentido da própria vida.  "Longos anos de infelicidade degradam um homem mais do que uma doença letal." "Realmente eram pessoas que viviam num poço - caíram nele e há muito tempo e agora ajeitavam a vida em seu fundo, pensando que o poço era o mundo inteiro." " - Sabe, às vezes tenho a impressão de que vivemos num mundo que nós mesmos projetamos. Determinamos o que é bom e o que é ruim, desenhamos mapas de significados... E depois, durante a vida inteira, lutamos contra aquilo que concebemos. O problema é que cada um tem a sua própria versão, por isso é tão difícil as pessoas chegarem a um ac

Envelhecer: uma honra, um temor, uma aventura?

  Ontem vi "The Father", traduzido como "Meu pai", co-produção Reino Unido e França. Direção e roteiro de Florian Zeller, com 6 indicações ao Oscar 2021 - Melhor Filme, Melhor Ator para Anthony Hopkins, Melhor atriz coadjuvante para Olivia Colman, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem. O filme conta a história de Anne (Olivia Colman) e Anthony (seu pai, interpretado por Anthony Hopkins), cujo processo de demência exige adaptação de ambos para o viver em novas condições. Aos poucos vamos compreendendo que a narrativa nos coloca dentro da perspectiva de Anthony, a cada giro de cena novos elementos nos são apresentados, novos vieses. O que é real? O que é a doença pregando peças em Anthony? O cenário é personagem também, ajuda a construir o quebra-cabeças, estamos na casa de Anne, no apartamento de Anthony, estamos no Asilo, onde estamos? Aonde as memórias de Anthony nos conduzem? O mais interessante e bonito do filme para mim é que Zeller n

A ridícula ideia de nunca mais te ver

"A ridícula ideia de nunca mais te ver" é sobre o luto, o da autora Rosa Montero, por seu marido que morreu de um câncer; e o da cientista polonesa Marie Curie - contado a partir dos diários da própria Marie - pela morte súbita de seu companheiro, o também cientista Pierre Curie. "Mas você não se recupera nunca, esse é o erro, a gente não se recupera: se reinventa." Rosa Montero vai costurando a narrativa sobre a vida dessa cientista brilhante, ao tempo em que reflete sobre a dor da perda, a morte, o luto, o poder redentor da arte. Eu gostei muito, é íntimo e histórico, por vezes a autora se desnuda, mas sem perder de vista a história de vida de madame Curie. "Assim eu soube o que era a dor psíquica, que é devastadora por ser inefável. Já diz a sabedoria popular: Fulaninho enlouqueceu de amargura. A tristeza aguda é uma alienação. Você se cala e se fecha." Marie Curie era polonesa, naturalizada francesa. Foi a 1a mulher a ganhar um prêmio Nobel (1903, em f

O Perigo da História Única

Há alguns anos vi um vídeo muito interessante sobre o perigo da história única, palestra no TED da nigeriana Chimamanda Adichie, disponível  no Youtube. Esses dias li o livro em que essa palestra foi transcrita, pois combinei de conversar sobre esse tema com amigos. "Mostre um povo como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão" . E como essa parcialidade é cruel, pois restringe, omite, mas é assumida como verdade absoluta que se presta à manipulação dos sentidos. E você pode estar pensando, o que isso tem a ver comigo e com o meu dia a dia? A história única não é prejudicial apenas para a imagem de um povo, de um país, ela é danosa para todo e qualquer juízo de valor que fazemos - e como somos precipitados em fazê-lo! -, ela é a base do preconceito, da intolerância. "A única história cria estereótipos. E o problema com os estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se a única história&qu

Você quer ser melhor pra mim e acaba melhor pro mundo

  Essa música é da banda Penélope. Linda canção. Aqui com participação de Samuel, do Skank. Acho que gosto dela porque realça a ideia de que a melhora do entorno começa dentro de cada um de nós, por meio do desenvolvimento pessoal individual. E ainda traz a inspiração de que o amor tem esse poder de iluminar, de nos elevar uma oitava acima, nos faz mudar a perspectiva, sair da mente-umbigo e olhar o outro. ;-) Continue Pensando Assim Não me peça pra ficar sabendo que o controle não é seu e nem meu E sempre estarei aqui, quando vc precisar de mim. Você me ama exatamente como eu gostaria Faz o mundo girar ao meu redor Vê como a vida está mais bela, só mudou sua forma de olhar. Vê como a vida está mais bela Continue pensando assim. Você quer ser melhor pra mim Continue pensando assim. Você quer ser melhor pra mim E acaba melhor pro mundo. E acaba melhor pra tudo. Fale somente o essencial, a vida se encarrega dos encontros. E sempre estarei aqui, quando você precisar de mi

"Estamos preparados para vivenciar com tolerância a pluralidade característica do coletivo?"

Dois filmes bonitos e fortes, ambos disponíveis no Amazon Prime, abordam a questão da homossexualidade, a relação entre pai e filho, o envolvimento da família e da sociedade da época. O conservadorismo, o preconceito, a não aceitação e a negação do próprio desejo, a violência e também o amor. Por que os assistir? Para exercitar o olhar, a sensibilidade, a empatia. Penso que a ficção retrata nossos dramas humanos e nos ajuda a significá-los. É espelho.   Uncle Frank se passa em 1973 e conta a história de Frank, gay, filho mais velho de uma família do sul dos Estados Unidos, bem tradicional e conservadora. O filme mostra uma relação tensa entre Frank e o pai - ao longo do filme compreendemos o motivo, não vou contar! -, o retrata também à margem da família, como se não pertencesse àquele grupo. Seus gostos são mais refinados, é professor universitário em Nova York, ensina Literatura, é casado há 10 anos com Walid, mas sua família não sabe. É admirado pela sobrinha Beth, a personagem que

Comédias românticas na Netflix

Bem, primeiro dia do ano e pode ser que você queira ver algum filme leve, mas que também não seja uma completa perda de tempo, não é verdade? Eu tenho dias que gosto de assistir comédia romântica, de preferência com final feliz. É, nada cult, eu sei.rs É que já há tantos desencontros na vida... deixa eu focar na arte do encontro de vez em quando! Então, vou sugerir 3 filmes nessa linha, todos disponíveis na Netflix: "Meu eterno talvez", "Encontro com data marcada" e o indiano "Queen". Meu Eterno Talvez , no original, "Always be my maybe", direção de Nahnatchka Khan, conta a história de Sasha (Ali Wong) e Marcus (Randall Park). Eles são amigos desde a adolescência. Os pais de Sasha passavam horas fora trabalhando e ela costumava ficar na casa de Marcus, cujos pais a acolhiam. Até que  por volta da formatura deles no colégio, a mãe de Marcus morre e, no clima de consolar e acolher, eles se beijam e rola a transa. Constrangidos, eles se afastam. O t