Dois filmes bonitos e fortes, ambos disponíveis no Amazon Prime, abordam a questão da homossexualidade, a relação entre pai e filho, o envolvimento da família e da sociedade da época. O conservadorismo, o preconceito, a não aceitação e a negação do próprio desejo, a violência e também o amor. Por que os assistir? Para exercitar o olhar, a sensibilidade, a empatia. Penso que a ficção retrata nossos dramas humanos e nos ajuda a significá-los. É espelho.
Uncle Frank se passa em 1973 e conta a história de Frank, gay, filho mais velho de uma família do sul dos Estados Unidos, bem tradicional e conservadora. O filme mostra uma relação tensa entre Frank e o pai - ao longo do filme compreendemos o motivo, não vou contar! -, o retrata também à margem da família, como se não pertencesse àquele grupo. Seus gostos são mais refinados, é professor universitário em Nova York, ensina Literatura, é casado há 10 anos com Walid, mas sua família não sabe. É admirado pela sobrinha Beth, a personagem que faz a ponte entre o Frank "verdadeiro" e o Frank membro da família, ela acaba indo estudar em Nova York, na Universidade em que o tio ensina e, por vias tortas, a relação entre os dois torna-se ainda mais estreita.
A história se desenvolve quando Frank, Walid e Beth precisam sair de Nova York e ir ao enterro do patriarca da família, o pai de Frank. Até o final, quando da leitura do testamento, ficamos esperando o acolhimento desse filho por esse pai, ainda que após a sua morte. Prepare-se para cenas fortes. O que mais me marcou foi a dureza. Por que é tão difícil aceitar a diferença? Quantos filhos ainda serão maltratados por serem gays? Violência psicológica também adoece e mata.
O outro filme lindo e igualmente forte é o peruano Retablo, representante do Peru no Oscar 2020. A história fala da relação de Noé e Segundo, pai e filho. Noé é um artista local reconhecido, fazedor de retábulos, que está ensinando sua tradicional arte ao filho. Diferente de Uncle Frank, a relação entre pai e filho aqui é delicada e amorosa, preenchida de admiração e cuidado. Para mim, é o maior tesouro do filme.
“Os retábulos ayacuchanos (retablos, em espanhol),
que dão título ao filme, são caixas portáteis de recordações. Dentro delas,
bonequinhos feitos de uma mistura de batata cozida e gesso ficam dispostos de
forma a representar temas religiosos ou cotidianos. Tipicamente andina, a
expressão artística está, desde junho deste ano, reconhecida pelo Estado
peruano como Patrimônio Cultural da Nação” (Fonte: página do Francamente
Querida -
http://francamentequerida.com.br/retablo-filme-peru-critica/).
Acontece que a homossexualidade de Noé é descoberta por Segundo e também pela comunidade, desencadeando uma série de reações violentas por parte de todos, inclusive da esposa de Noé. E, mais uma vez, fica rodando na minha cabeça, imagino que na sua também, por que é tão complicado aceitar o diferente? Tanto se fala em empatia e pouco a exercitamos. Onde está nosso radar social? Não conseguimos ler as emoções alheias, talvez porque sejamos inábeis para compreender as nossas próprias emoções? Não tenho respostas, mas não é possível que tantas e tantas pessoas continuem se matando, sendo agredidas e/ou mortas por serem diferentes do considerado ideal, padrão. Quem somos nós para julgar os outros e condená-los? Mais amor, por favor.
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