Pular para o conteúdo principal

Homens imprudentemente poéticos, um livro de Valter Hugo Mãe



"Homens imprudentemente poéticos" é o livro mais lindo de Valter Hugo Mãe que li até agora... é mágico, uma prosa poética, um texto rico de imagens, bordado com palavras.

"Ela sabia apenas da beleza das palavras porque era com elas que se explicava o mundo."

Assim como a personagem cega Matsu, Hugo Mãe é um "cuidador de palavras" e nos conta de um Japão mítico, transcendental, onde claridade e escuridão, vida e morte são faces da mesma realidade, a das ideias imprudentemente poéticas...

"E cada pássaro seria gigante como um milhão de meninas juntas. Porque cada pássaro teria a medida de uma ideia. As ideias, irmã, são de extremidades indefinidas, a cada instante se expandem".

Ideias e sentimentos dão sentido às nossas existências...

"Esperaram pelo sono para se mudarem para o dia seguinte. Havia sempre esperança na travessia nocturna. Cada deus revia a criação no quieto da noite. Acender os dias era sempre a possibilidade de uma nova criação. Era importante dormir com esperança."

Esperança ativa, esperar que saibamos ser opositores, que o afeto nos conecte, que sejamos tão propensos ao sorriso como possamos ser, que possamos abraçar nossos medos, que a lua acenda o mundo, que a gentileza nos elucide, que nossos desejos caminhem na direção dos mais belos propósitos, que tenhamos atenção aos detalhes... é o convite de Valter Hugo Mãe.

"Haveria de celebrar a origem do sol e as pessoas e os animais. Ele haveria de embelezar todas as evidências para melhorar a animosidade do mundo. Deixava a pequena taça de sake no pequeno altar de sua casa, entendia que estar com amigos era uma prece. Haveria de melhorar a animosidade do mundo, repensou. Era verdadeiramente o herói que nunca desistiria".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sadece Sen - Só você (filme legal no Netflix)

Fazia tempo não assistia uma história de amor tão linda quanto a desse filme turco: Sadece Sen (que significa "só você", em português), lançado em 2014. Uma amiga me recomendou e como eu adoro um romance, fui conferir. Está na Netflix. A diretora é Hakan Yonat, também autora do documentário Ecumenópolis: a cidade sem limites , sobre Istambul em um caminho neoliberal destrutivo (mas essa é outra história!). Sadece Sen nos conta de Ali (Ibrahim Çelikkol) e Hazal (Belçim Bilgin), lindos e turcos (rs). Ali é um ex-pugilista, órfão, de olhos tristes, que vive assombrado com o peso de escolhas - e suas consequências - das quais se arrepende. Já Hazal é uma moça primaveril, bonita e cega que trabalha em um call center, mas que também esconde uma escuridão interna, uma culpa que a aprisiona. Os detalhes vão aparecendo ao longo do filme. Eles se conhecem meio que "por acaso" (será que há acasos na vida?); Hazal costumava ir assistir tv com o tio, que era...

Mortal Loucura - Gregório de Matos

O ser humano sendo sublime e humilde... Poema de Gregório de Matos, musicado por José Miguel Wisnik e interpretado por Caetano Veloso para o musical Onqotô do Grupo Corpo em 2005. No vídeo, quem recita é Bethânia. Mortal loucura Na oração, que desaterra … a terra, Quer Deus que a quem está o cuidado … dado, Pregue que a vida é emprestado … estado, Mistérios mil que desenterra … enterra. Quem não cuida de si, que é terra, … erra, Que o alto Rei, por afamado … amado, É quem lhe assiste ao desvelado … lado, Da morte ao ar não desaferra, … aferra. Quem do mundo a mortal loucura … cura, A vontade de Deus sagrada … agrada Firmar-lhe a vida em atadura … dura. O voz zelosa, que dobrada … brada, Já sei que a flor da formosura, … usura, Será no fim dessa jornada … nada.

Geraldinos e Arquibaldos

Sempre falo que a Arte encanta, transcende, sacode as nossas convicções, torna os dias mais leves e interessantes. A música, por exemplo, tem o poder de nos emocionar instantaneamente! Uma melodia nos atravessa... faz rir ou chorar ou dançar, somos afetados. " Geraldinos e Arquibaldos " é uma dessas canções poderosas - de Gonzaguinha não podia ser diferente! - que sacodem a alma e agitam o corpo. Na interpretação da banda Chicas ganhou vida nova: E olha que interessante a história da música: " geraldinos e arquibaldos é uma expressão de fácil entendimento para aqueles que freqüentaram o Maracanã até a sua reforma no ano de 2005. A clássica separação entre arquibancada e geral era um dos charmes daquele que desde o início de sua existência possui a alcunha de “maior do mundo”. Muito anterior ao surgimento da coluna no Jornal dos Sports, a denominação “geraldinos e arquibaldos” nasceu em meio a tantos pensamentos geniais de Nelson Rodrigues. Considerando...