Muito se tem dito sobre essa época que estamos vivendo, acuados em casa por um vírus minúsculo. Digo em relação ao aspecto espiritual da coisa. Que se trata de karma coletivo. Que podemos abrir um portal e dar um salto evolutivo ou retrocedermos e cairmos em um buraco escuro. Que é uma chance de exercitarmos solidariedade e pensarmos mais no outro do que em si mesmo. Até que se trata de uma "faxina" na humanidade e apenas os mais egoístas serão levados, eu já ouvi. Vai saber!
Para além do aspecto metafísico, no entanto, vejo que, de fato, se trata de uma oportunidade para estarmos ensimesmados. Sem deslocamentos, sem praia, sem barzinho, sem jantares, sem teatro nem cinema, sem Shopping, sem trânsito para reclamarmos. Sim, talvez o maior desafio dessa quarentena seja justamente a convivência com nosso mundo interior. O estar em silêncio. Sem as muletas externas... teletrabalho, aulas online, lavar pratos, netflix, livros, lavar pratos, youtube, amazon prime, spotify, lavar pratos, videochamadas, cozinhar, mais pratos para lavar, etc. Difícil, não? E o medo de morrer? Ou de perder as pessoas que amamos? E de perder o emprego? E de falir? É preciso estar consigo e ainda manter o juízo alinhado!rsrs E para quem está confinado com família, ainda há a prova iniciática da convivência. Força!
Podemos mudar essa realidade? Penso que não. O vírus está aí. O perigo é real. O isolamento é compulsório, de certa forma, e opcional - ético - por outro lado. Há um livro que gosto muito, chamado "A arte de viver", de Epicteto, grande filósofo do Estoicismo. Ele nos ensina a nos concentrarmos naquilo que depende de nós e a aceitarmos o que está fora do nosso poder.
"Sob nosso controle estão as nossas opiniões, aspirações, nossos desejos e as coisas que nos causam repulsa ou nos desagradam. Essas áreas são justificadamente da nossa conta porque estão sujeitas à nossa influência direta. Temos sempre a possibilidade de escolha quando se trata do conteúdo e da natureza de nossa vida interior. Fora do nosso controle, entretanto, estão coisas como o tipo de corpo que temos, se nascemos ricos ou se tiramos a sorte grande e enriquecemos de repente, a maneira como somos vistos pelos outros ou qual é a nossa posição na sociedade. Devemos lembrar que essas coisas são externas e, portanto, não dependem de nós. Tentar controlar ou mudar o que não podemos só resulta em aflição e angústia."
Pois bem, eu adoro isso! :-) Parece óbvio, não é mesmo? Mas quantas vezes nos desgastamos - até brigamos! - e perdemos o sono por coisas que não estão sob o nosso controle? (Entenda isso, criatura!rs Você não controla as pessoas e as circunstâncias. Ponto.)
Outra ideia de Epicteto que pode nos ajudar nesse momento é quando ele diz que "o que realmente nos assusta e desanima não são os acontecimentos
externos em si, mas a maneira como pensamos a respeito deles. Não são as
coisas que nos perturbam, mas a forma como interpretamos seu
significado." Faz sentido para vocês?
Ele acrescenta ainda que "as provações que suportamos podem e devem nos revelar
quais são as nossas forças", que possuímos forças que provavelmente
desconhecemos.
Encontremos, então, a força que necessitamos nesse momento e a utilizemos! Todos temos forças. Você sabe qual é a sua? Vamos sair dessa. Acredite. O vírus não dura para sempre. Essa crise vai passar. E quem queremos ser ao final?
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