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Paixão - Nathália Timberg


Esse final de semana vi o espetáculo Paixão, monólogo com Nathalia Timberg, direção de Wolf Maia. O texto é de Betty Milan, uma costura de falas e poemas que falam do tema amor. As poesias emocionam e a música também. Há um tecladista e um celista. Como fiquei em frente ao celista, posso falar melhor de sua expressão: total enlevo. De olhos fechados, tocava como se cada palavra e cada nota o absorvesse. Ao final, as palavras emocionadas de Nathalia Timberg também me fizeram pensar em como é bom poder "trabalhar" fazendo aquilo que se gosta...

Compartilho alguns trechos de poesia da peça:


“Contemplar em silêncio a tua imagem, adivinhar o que você desejava... eu era monotemático, mas desconhecia a monotonia. Às vezes, me ocorria sermos obra divina – éramos perfeitos. Às vezes, obras de arte – parecíamos seres fictícios. Ambos suicidas e assassinos... Fui mendigo e fui rei, pedinte, eu te dava o que não tinha, um vasto império.” Betty Milan

“Faze o teu dever de mera taça. Cumpre o teu mister de amphora inútil. Ninguém diga de ti o que o rio pode dizer das margens: que existe para o limitar.”
Fernando Pessoa, Livro do desassossego

“Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento,
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.”
Vinicius de Moraes, “Soneto de Carnaval”, Livro dos sonetos


“O nosso sexo era ambíguo, sem ser andrógino, cada um era homem e mulher, sem ser um travesti, encarnava os dois sexos. Assim, o amor mascarava a nossa incompletude. Impossível saber quem éramos, e eu, hoje, me pergunto se não era a máscara que amávamos.” Betty Milan



“Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida
Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
'Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus! Princípio e Fim!..'"
Florbela Espanca, “Fanatismo”, Livro de Sóror Saudade

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