"A palavra que resta" é sobre a bonita e triste história de Raimundo e seu amor por Cícero. Os dois rapazes são amigos de infância, já adultos, se descobrem apaixonados e vivem essa relação por dois anos, encantados um pelo outro. Até que os pais descobrem - surras, não aceitação, palavras duras, segredos de família revelados, medos - e eles se afastam.
"[...] o rapaz admirado perguntar pra moça se ela tinha visto os dois machos de mão dada, eu pensei que no segundo seguinte minha mão não ia mais estar na tua ou eu queria que ela não estivesse, não sei, mas eu não larguei e tu não largou, e eu fiquei pensando se um dia a gente ia poder fazer do mesmo jeito na frente de outras pessoas, passar pelo mundo de coração e mão dada um ao outro [...]"
Um encontro marcado, um deles não comparece, uma carta que é entregue, o outro que é analfabeto e não pode lê-la. 50 anos de uma carta guardada. O aprender a ler e escrever aos 71 anos. Uma vida de expectativa, de conjecturas, de vergonha e sombras. A busca pela palavra redentora, pela vida que restou.
"E iria trocar de identidade. Era homem que sabia assinar o nome. Dava gosto ter isso no documento. Dava gosto ter isso nele, agora que conseguia colocar as palavras para fora, porque dentro elas alvoroçavam a cabeça, engasgavam a goela. Não podia mais ficar assim. Tinha que lhes dar um corpo próprio, só delas."
"Há no relato de Raimundo uma violência simbólica que parece ferir mais que a violência física, na carne, porque fere dentro. Quando o seio familiar não é espaço de acolhimento, onde “a voz que afaga é a voz que afoga”. Um ciclo de dor que se repete, primeiro em uma geração, depois em outra. O peso de uma cruz que se carrega, se guarda e não se nomeia. Essa violência que resulta em muros que cercam uma existência." Gabriel Pinheiro
Esse é o primeiro romance de Stênio Gardel, cearence de Limoeiro do Norte, pela Companhia das Letras.
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